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O DETALHE DA COMPOSIÇÃO ESTÉTICA: COTIDIANO REPRIMIDO NO CINEMA DE LUCRECIA MARTEL

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Pensando no cinema como sistema de pensamento e produto comunicacional, a tela da sala escura como potência de experiências estéticas, chamamos ao presente estudo o termo a-subjetivo (QUÉRÉ, 2010), referindo-nos as experiências como impessoais e objetivas. Assim, sugerimos que as experiências são resultantes de um processo e de uma situação aos quais somos inseridos, para enfim, compreendermos e nos apropriamos daquilo que nos afeta. Para tal articulação realizamos uma análise a respeito da memória pós-ditatorial (JENS ANDERMANN, 2015), manifesta na expressão cinematográfica de Lucrecia Martel. Por meio do enfoque analítico, pressupomos vestígios de cotidianidade, inscritos e reconhecidos em uma unidade temática nas obras da cineasta, que predomina o convívio familiar no espaço doméstico, lugar potencial de experiências hierárquicas de poder e violência (FOUCAULT, 2014). Ou seja, no detalhe das imagens de Martel, observamos a metonímia de uma nação, que pelo menos por um século vivenciou a instabilidade entre governos democráticos e golpes militares. Desse modo, consideramos a tela do cinema como superfície de uma composição estética, como produto relacional entre o espectador e o cotidiano (BRAGA, 2010) – a razão dos fatos e a razão das ficções (RANCIÈRE, 2009).