DESENVOLVIMENTO INFANTIL INTEGRAL E INTEGRADO: ANÁLISE PRELIMINAR DE UMA AÇÃO EDUCATIVA INTERSETORIAL

Vol 4, 2021 - 137335
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Resumo

Resumo

O desenvolvimento infantil refere-se à uma transformação complexa, contínua, dinâmica e progressiva, que inclui crescimento, maturação, aprendizagem, aspectos psíquicos e sociais. Este estudo descreveu a metodologia, as ferramentas utilizadas e os resultados alcançados por uma ação educativa com foco na abordagem integral do desenvolvimento infantil, voltada para profissionais da Saúde, Cultura, Educação e Serviço Social envolvidos com o cuidado da criança. Foi desenvolvido um estudo documental baseado na análise do material didático do curso, roteiros preenchidos por alunos e multiplicadores e projetos de intervenção. Participaram 1267 profissionais de 31 municípios de Minas Gerais, assim distribuídos: Saúde (76%), Educação (7%), Assistência Social (6%), Cultura/Esporte/Lazer (0,7%). O curso foi avaliado positivamente (93%) e os alunos consideraram que poderão aplicar os conhecimentos adquiridos (80%). Como produto final foram apresentados 87 projetos de intervenção com os seguintes temas: acompanhamento infantil (68%), registro de informações (24%), ações intersetoriais (15%), saúde da mulher (12%). A metodologia adotada e o uso de ferramentas que estimularam o planejamento local possibilitaram às equipes abordagem de problemas concretos, com elaboração de projetos de intervenção para seu enfrentamento. A intersetorialidade apareceu como estratégia articuladora das ações.

Introdução

Desenvolvimento infantil (DI) refere-se à uma transformação complexa, contínua, dinâmica e progressiva, que inclui crescimento, maturação, aprendizagem, aspectos psíquicos e sociais. Da gravidez e ao longo da primeira infância, os ambientes em que a criança vive e a qualidade de seus relacionamentos com adultos têm impacto significativo neste processo (BRASIL, 2016). A Caderneta da Criança (CC) é um importante instrumento de acompanhamento do DI (AMORIM et al., 2018); intervenções integradas e intersetoriais asseguram melhores oportunidades de acesso aos serviços de apoio ao DI (LAURIN et al., 2015). O curso “Promoção do desenvolvimento infantil integral” está inserido no contexto de implantação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC), instituída pela Portaria nº 1130, de 05 de agosto de 2015. A PNAISC tem o objetivo de promover e proteger a saúde da criança mediante cuidados integrais e integrados. O curso buscou o fortalecimento do terceiro eixo da política, “Promoção e acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento integral”, considerado eixo integrador central da linha do cuidado da atenção integral à saúde da criança (BRASIL, 2015).

Objetivos

Descrever a concepção pedagógica, os aspectos metodológicos, as ferramentas utilizadas e os resultados alcançados com a ação educativa voltada para profissionais da Saúde, Cultura, Educação e Serviço Social envolvidos com o cuidado da criança, com foco na abordagem integral do DI no contexto da atenção primária à saúde (APS). A ação educativa é parte de projeto de extensão da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.

Metodologia

Estudo documental baseado na análise do material didático do curso “Promoção do desenvolvimento infantil integral”, realizado de agosto a dezembro de 2019. Foram ainda analisados roteiros preenchidos pelos cursistas e multiplicadores e projetos de intervenção apresentados como atividade final. O material didático impresso é composto por três cadernos (do participante, do multiplicador, de atividades) que descrevem a proposta pedagógica, público alvo, conteúdo e atividades (CURY et al., 2019). O perfil dos participantes (setor de origem e categoria profissional) e a frequência aos seminários foram extraídos da planilha de consolidado de frequência. A avaliação do curso baseou-se na percepção dos participantes manifestada nos roteiros de avaliação de cada seminário e no roteiro de avaliação final do curso. Para estes dados foi realizada análise descritiva. Os projetos de intervenção foram analisados quanto ao conteúdo expresso em seus títulos e objetivos gerais. Resultados e Discussão Participaram 1267 profissionais de 31 municípios mineiros. Foram oito seminários presenciais (40 horas), conduzidos por 21 multiplicadores, intercalados com momentos de dispersão (20 horas). A concepção pedagógica foi a problematização, com uso de metodologias ativas de ensino-aprendizagem. Temas abordados: PNAISC; Promoção do DI; CC; Vínculo mãe-filho e Intersetorialidade. Os problemas para o projeto de intervenção foram selecionados a partir de diagnóstico situacional. Prevaleceram os trabalhadores da Saúde (76%), especialmente da APS. Outros setores enviaram poucos representantes – Educação (7%), Assistência Social (6%), Cultura/Esporte/Lazer (0,7%) – que tiveram participação irregular. Os 28 gestores inscritos também participaram de forma irregular. Os alunos avaliaram o curso positivamente (93%) e consideraram que poderão aplicar os conhecimentos adquiridos (80%). Ao final do curso foram apresentados 87 projetos de intervenção. Os temas principais foram: acompanhamento infantil (68%), aprimoramento do registro de informações (24%), construção de ações intersetoriais (15%), saúde da mulher (12%). A colaboração intersetorial foi a estratégia proposta para a promoção do DI.

Conclusões / Considerações finais

O curso mostrou-se eficaz na apresentação, recuperação e discussão de temas importantes no processo de promoção e avaliação do DI. A metodologia adotada, com o uso de ferramentas que estimularam o planejamento local, foi bem avaliada e possibilitou a elaboração de projetos de intervenção adequados à realidade das equipes. Como integrar todo esse arsenal na rotina de trabalho das equipes e dar sustentabilidade às ações nos municípios? Como garantir a continuidade do processo e replicar metodologia e conteúdos para as equipes que não participaram? Como promover a mobilização e articulação intersetorial nos territórios? A intersetorialidade mostrou-se uma estratégia importante. No entanto, com a baixa participação de trabalhadores de setores externos à Saúde, houve pouco exercício do diálogo intersetorial. O apoio e o envolvimento da gestão, com estímulo e sustentação a uma rede de governança articulada e ampla, serão decisivos nas respostas a estas questões.

Referências

AMORIM, L. P. et al. Avaliação do preenchimento da Caderneta de Saúde da Criança e qualidade do preenchimento segundo o tipo de serviço de saúde usado pela criança. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 23, n. 2, p. 585-597, 2018. CURY, G. C. (Org.) et al. Promoção do desenvolvimento infantil integral: caderno de atividades. Belo Horizonte: Faculdade de Odontologia da UFMG, 2019. 134 p. BRASIL. Portaria nº 1.130 de 05 de agosto de 2015. Institui a Política Nacional de Atenção à Saúde da Criança (PNAISC) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 05 ago. 2015. BRASIL. Ministério da Saúde. Síntese de evidências para políticas de saúde. Promovendo o desenvolvimento na primeira infância. Brasília, 2016. 63 p. LAURIN, I. et al. Intersectoral mobilization in child development: an outcome assessment of the survey of the school readiness of Montreal children. Soc. Sci., Basel, v. 4, p. 1316-1334, 2015.

Eixo Temático
  • 8. Gestão do Cuidado e de Serviços de Saúde