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Pré-natal: a importância da APS para gestação de uma imigrante senegalesa

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A disciplina de Saúde da Mulher deveria apenas seguir a matriz curricular, mas há coisas que acontecem na atenção primária, que mudam nossas percepções e nos fazem crescer, não apenas como estudante, mas como pessoa. Precisávamos pesquisar sobre pré-natal e condicionantes sociais de saúde e ganhamos um presente recém-chegado do Senegal: A., 34 anos, G4P2A1, gestante de vinte semanas na época. Não falava português, dependendo completamente do marido, MS., para se comunicar. O casal mora no estádio de futebol, onde M.S trabalha há 5 anos, em um apartamento pequeno; a maioria de suas despesas é custeada pelo clube, possibilitando a economia, para a vinda de A.. A barreira do idioma se mostrou enorme, desde a primeira visita domiciliar, conversamos por mímica, nem sempre o que perguntávamos era respondido, tentamos inglês, francês, nada surtia efeito. Acabávamos de descobrir nossa própria Babel, cujos significados, até mesmo dos gestos, eram diferentes. Nise da Silveira dizia que o que melhora o atendimento é o contato afetivo e com o passar das semanas nosso vínculo se solidificou, as expressões e gestos já faziam mais sentido, mesmo com alguns desencontros. Durante o acompanhamento, surgiram dores no baixo ventre e a alteração na glicemia, A. precisou ser encaminhada para avaliação obstétrica. Na 35ª semana tinha contrações e 1 centímetro de dilatação, a obstetra solicitou outro teste glicêmico, reforçando as orientações sobre alimentação e cuidados, com retorno marcado para quinze dias. Não tivemos tempo de voltar, nasceu exatamente 2 semanas depois, no hospital errado, não pudemos acompanhar o parto, ficamos na sala de espera, para ver o rosto da nossa primeira paciente. Uma bebê prematura, mas saudável, rejeitou a sonda, e quase não chorava. Nasceu com 37 semanas, sem nome, que foi dado no sétimo dia, uma menina senegalesa, que veio ao mundo para resistir.