ANAIS DO 15º CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA DA FAMÍLIA E COMUNIDADE

Este trabalho é um relato de caso sobre o acompanhamento de uma pessoa com múltiplos sintomas somáticos / sem explicação médica, dentro do seu contexto familiar e social. Seu objetivo é relatar as práticas de abordagem de uma paciente com múltiplos sintomas sem explicação médica, por meio de uma análise documental do seu prontuário médico, pelo método fenomenológico. Começamos pelo resgate da trajetória de formação dos paradigmas da medicina no Ocidente, desde Descartes e Flexner até Alma Ata e o modelo biopsicossocial. Seguimos revisando o impacto dos transtornos mentais comuns e dos transtornos de somatização / sintomas sem explicação médica na prática diária do Médico de Família e Comunidade, com uma breve discussão sobre a nomenclatura destes fenômenos e sua utilidade. Então descrevemos o caso da paciente de pseudônimo Maria, que experimenta dezenas de sintomas e alterações clínicas graves como síndrome consumptiva, febre, hemoptise e adenopatia dentro de um episódio depressivo grave, com diversos exames complementares normais. Descrevemos como o uso do método clínico centrado na pessoa contribuiu para o entendimento do processo de saúde-adoecimento de Maria, que vivia um contexto de vulnerabilidade social enquanto mulher, latino-americana e periférica, de risco para transtornos mentais comuns. Como a paciente apresentou um total de oito síndromes funcionais associadas ao episódio depressivo grave, discutimos a artificialidade da aplicação desses conceitos nosológicos dentro do cuidado a uma pessoa sofredora de sintomas sem explicação médica e transtornos mentais comuns. O caso mostra como a superação do modelo anátomo-clínico se faz necessária dentro do contexto da Atenção Primária à Saúde. A melhora da paciente após o uso de ferramentas de abordagem integral revela a importância que o estudo destes conceitos e o uso dessas ferramentas têm na prática diária do Médico de Família e Comunidade.