ANAIS DO 15º CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA DA FAMÍLIA E COMUNIDADE

O rompimento da Barragem de Fundão da Samarco, ocorrido em Mariana (MG) no dia 05 de novembro de 2015 é considerado o maior crime socioambiental do país. Com a chegada do mar de lama, destruíram-se vidas, estruturas materiais, vínculos comunitários, laços sociais, modos de vida e territórios. Diante do desastre, o sistema de saúde Marianense estruturou uma Equipe de Saúde da Família (ESF) e o CONVIVER, uma equipe de saúde mental e atenção psicossocial que atua no território da sede de Mariana, ambas para o atendimento dos atingidos de Bento Rodrigues e de Paracatu, que se deslocaram forçosamente dos subdistritos para a sede urbana. A destruição das localidades como território vivo levou ao aumento de demandas em saúde mental, apontado pelas trabalhadoras da ESF e por pesquisa recente (PRISMA, 2018) como o problema de saúde que mais aumentou após o rompimento. Esses achados corroboram a leitura de Valêncio e Valêncio (2018) que refere que o sofrimento social é que define um desastre, onde os membros da coletividade experimentam manifestações de dor física, psíquica e emocional, as quais deflagram diferentes tipos de sofrimentos. Diante disso, o CONVIVER se sobressai como um poderosa ferramenta de transformação do cuidado à saúde mental, atuando mediante os marcos teóricos da Reforma Sanitária e da Reforma Psiquiátrica, desinstitucionalizando a clínica e construindo a integralidade do cuidado com a ESF, de forma itinerante e peripatética, promovendo um cuidado emancipador. Nossa experiência como ESF com uma equipe de saúde mental itinerante, atuante em uma comunidade rural de atingidos pela Barragem de Fundão, evidencia como o cuidado no território aumenta a resolutividade da Atenção Primária à Saúde e quebra os paradigmas do modelo sintomatológico, que sintetiza as racionalidades do manicômio e das propostas reducionistas da medicina neoliberal.