ANAIS DO 15º CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA DA FAMÍLIA E COMUNIDADE

Introdução: O suicídio figura entre as principais causas de morte em países desenvolvidos e a incidência deste fenômeno tem crescido vertiginosamente no cenário mundial. Em resposta, crescem estudos e intervenções que visam prevenir tal ato considerando as individualidades de cada caso. Aqui expomos um exemplo bem sucedido do uso de cães como um fator protetor mister ao suicídio. Relato: M., 25 anos, feminino, parda, solteira, desempregada, moradora de área rural no Distrito Federal, procura a Unidade Básica de Saúde pela primeira vez, motivada por ideação suicida. Possuía história de abuso sexual recorrente durante a infância, bullying, auto-mutilação, três tentativas de auto-extermínio, além de história familiar de síndrome depressiva; porém, negava quaisquer tipos de tratamento prévio (psicoterápico e medicamentoso). Estava em contexto familiar conturbado, morando com pai etilista, mãe negligente e primo doente, além de três cachorros. Feito o acolhimento e, diante da gravidade do caso, iniciou-se antidepressivo e retornos semanais breves. Ao longo do acompanhamento subsequente, M. relatava continuamente que seus cães eram a sua única fonte de felicidade. Dizia ainda que só não cometeria suicídio pois os animais ficariam sem donos e cuidados. Desse modo, mesmo desejando a morte, mantinha-se viva para atender às necessidades dos cães. Conclusão: Observou-se no acompanhamento de M. que a preservação da vida condicionava-se, em grande parte, à presença dos cães. A despeito do sofrimento mental que experienciava e da vigência do tratamento biopsicológico, a preocupação com o futuro dos animais de estimação funcionou como o principal fator protetor ao ato suicida, sendo importante vínculo com a vida. Interpretamos que tal ação tem diferentes graus de efetividade a depender do significado da relação do dono com seus animais, emergindo como ação útil a ser estimulada na prática clínica e motivando estudos sistemáticos dessa intervenção.