ANAIS DO 15º CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA DA FAMÍLIA E COMUNIDADE

A pseudociese é uma entidade clínica em que uma mulher não portadora de psicose acredita estar grávida e apresenta sintomas e sinais de gravidez na ausência de uma gravidez verdadeira. Possui etiopatogenia multifatorial que envolve mecanismo psicológicos, neuroendócrinos e fatores socioculturais. Relato do caso: Paciente A. O. S, feminina, 40 anos, assistida pela Clínica da Família Estácio de Sá - Rio de Janeiro, submetida a histerectomia total com ooforectomia em 2013, procurou atendimento em abril de 2017 com queixa de hiperfagia, náuseas, sonolência diurna e sensação de movimento dentro do abdome com 2 meses de evolução referindo preocupação por acreditar estar grávida. Portava ultrassonografia transvaginal de 2015 que revelava ausência de imagem uterina e ovariana, tendo sido orientada sobre impossibilidade de gestar. Evoluiu com dor em cólica e sensação de distensão abdominal, hiperpigmentação e sensação de aumento de volume de mamas e aumento de circunferência abdominal. Passou a comparecer mensalmente em consultas. Realizou teste rápido de gravidez com resultado negativo e nova ultrassonografia transvaginal que não visualizou imagem uterina ou ovariana. Se mostrava surpresa e confusa com ausência de batimentos cardíacos fetais ao exame com sonar. Em abordagem psicossocial, referiu professar fé cristã evangélica e por isso acreditar que pudesse engravidar ainda que soubesse ser biologicamente impossível. Em consulta subsequente veio acompanhada do esposo a pedido da equipe de saúde, que mostrou comportamento opressor e violento com paciente. Em novembro paciente queixou ter sido agredida fisicamente pelo marido e revelou sofrer violência psicológica, sexual e física do esposo, quem desejava ter uma filha mulher. Em dezembro de 2017 após consultas com abordagens sobre violência doméstica disse compreender que não estava grávida e organizou plano para fugir de casa com os filhos. Como conclusão, a pseudociese pode possuir o contexto social de violência doméstica como fator contribuinte para sua gênese.