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RESISTÊNCIA NATURAL DA MADEIRA DE Melia azedarach AO ATAQUE DE FUNGOS APODRECEDORES

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. INTRODUÇÃO

Como material orgânico a madeira pode ser deteriorada por agentes biológicos, químicos, entre outros agentes que causam prejuízos econômicos e por vezes irreversíveis na qualidade do produto final. Entre os agentes de origem biológica encontram-se fungos, que necessitam de fontes de alimentos para sobreviver. Na madeira estes organismos encontram fontes de compostos orgânicos que utilizam como suprimento.
A espécie Melia azedarach, conhecida como cinamomo-gigante pertencente a família Meliaceae tem sua origem na Ásia, também ocorre na Índia, Nova Guiné, Austrália e Indonésia (SHUMACHER ET ALL 2005).
Uma das consequências da podridão branca, causada por fungos é a perda total ou parcial da resistência, pois estes agentes biológicos consomem a lignina, que promove a rigidez da parede celular, ocorrendo maior perda de holocelulose na madeira atacada, esta adquire uma coloração esbranquiçada além de perder peso e propriedades mecânicas. Enquanto que na madeira com podridão parda a perda de resistência mecânica é provocada pela destruição dos elementos estruturais da parede celular (MENDES, 1988).
O objetivo deste trabalho foi avaliar a resistência natural da madeira de Melia azedarach submetida à ação dos fungos Pycnoporus sanguineus, causador de podridão branca e Gloeophyllum trabeum, causador da podridão parda.

2. MATERIAL E MÉTODOS

As peças avaliadas de Melia azedarach foram fornecidas pelo Centro Tecnológico do Mobiliário, na cidade de Bento Gonçalves-RS.
Os fungos utilizados neste estudo foram fornecidos pelo Laboratório de Produtos Florestais do Serviço Florestal Brasileiro.
O material foi levado até o laboratório de Biologia pertencente à Universidade Federal do Pampa. Para a montagem do ensaio foram utilizados 16 frascos de vidro preenchidos com 100 g de solo, 43 gramas de água destilada e uma placa de alburno de Pinus elliottii de dimensões 3,0 x 29,0 x 35,0 mm. Após, os frascos foram autoclavados e acondicionados em sala de incubação até o recebimento da colônia de fungos. O meio de cultura utilizado para a repicagem dos fungos foi AEM (agar e extrato de malte) na proporção de 20 g de agar, 20 g de extrato de malte e 1000 ml de água destilada. A inoculação dos fungos foi realizada em câmara de fluxo laminar. Logo os frascos de vidro retornaram para a sala de incubação, onde permaneceram durante 30 dias até que a placa de Pinus fosse completamente colonizada. Os corpos de prova foram secos em estufa a 63°C para a obtenção da massa inicial, identificados e postos em contato com a placa de Pinus completamente colonizada, onde permaneceram por um período de 16 semanas.

Fig. 1: (A) frascos contendo os corpos de prova totalmente colonizados por Gloeophyllum trabeum. (B) frascos contendo os corpos de prova totalmente colonizados por Pycnoporus sanguineus.

Após a retirada dos frascos da sala de incubação, os corpos de prova foram novamente secos em estufa a 63° C até atingirem peso constante para a obtenção da massa final. A resistência natural da madeira foi avaliada em função da perda de massa e a classificação quanto ao nível de resistência natural da madeira foi de acordo com a norma ASTM D 2017 (1994), conforme o quadro 1.

Quadro 1: Classes de resistência da madeira a fungos xilófagos ASTM D 2017 (1994).
RESISTÊNCIA P M (%) MR (%)
Resistência alta 0-10 90-100
Resistente 11-24 76-89
Resistência leve 25-44 56-75
Não Resistente > 45 < 55

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Sabendo o peso inicial e final de cada amostra foi calculada a perda de massa pelas médias dos pesos e a massa específica, de acordo com o quadro 2 abaixo.

Quadro 2: Massa específica e Perda de massa em (%) dos corpos de prova de Melia azedarach quando submetidos à ação dos fungos causadores de Podridão branca e parda. Onde 1= De acordo ASTM D 2017 (1994).

Espécie Massa Específica (g/cm³) Massa perdida(%) Classificação da Resistência¹
M. azedarach 0,44 41,02 RM (Podridão Branca)
M. azedarach 0,46 30,93 RM (Podridão Parda)

A madeira de Melia azedarach submetida à ação do Pycnoporus sanguineus, causador da podridão branca teve 41,02% de perda de massa após o período de dezesseis semanas de contato. Já quanto à ação do Gloeophyllum trabeum, causador da podridão parda a perda de massa obtida após o período de dezesseis semanas foi menor (30,93 %). E as massas específicas básicas que antecedem o ataque eram de 0,44 e 0,46 g/cm³. De acordo com a norma americana ASTM D 2017, a espécie Melia azedarach apresentou uma resistência moderada quanto ao ataque dos dois fungos como é observado no quadro 1.

4. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS

A madeira da espécie Melia azedarach é moderadamente resistente à ação do P. sanguineus e do G. trabeum. A madeira de Melia azedarach apresenta em sua composição muitas substâncias bioativas em função dos limonóides e isto pode ter sido uma provável causa da baixa porcentagem de massa perdida após o contato com os dois fungos. Existem poucos trabalhos sobre a Melia azedarach. Ainda há necessidades de realizar mais estudos com esta espécie principalmente no que se refere às características tecnológicas da madeira e sua relação com fungos apodrecedores. É uma espécie que pode ter ampla utilização, pois de acordo com Backes e Irgang (2004), cinamomo é uma planta rústica de rápido crescimento e fácil cultivo, a madeira de Melia azedarach é de boa qualidade podendo ser utilizada na fabricação de móveis finos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM D. 2017: Standard method for accelerated laboratory test of natural decay resistance for woods. Annual Book of ASTM Standards, Philadelphia, v. 410, p. 313 – 317,1994.

BACKES, P & IRGANG, B. Árvores Cultivadas no Sul do Brasil. 1º edição. Porto Alegre, 2004. 204 p.

MENDES, A; ALVES, M. V. S. A degradação da madeira e sua preservação, Brasília, IBDF/DPq-LPF, 5-53 p, 1988.

SHUMACHER, M. V; et all. Silvicultura Aplicada. UFSM. Santa Maria, 1-120 p, 2005. (APOSTILA).