Os Bailes de dança de salão Contemporâneos e queer: criações coletivas de modos de existência rebelde.

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Comitê Temático - Apresentação Oral
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Resumo

A presente pesquisa aborda os bailes de dança de salão contemporâneos e queer como performances coletivas interessadas em subverter a cis-heternormatividade dessa prática. Compreendendo o espaço do baile como um local de disputa de narrativas, ao refletirmos sobre as condutas que circulam pelos corpos através dos modos de dançar. A dança de salão possui uma relação intrínseca com os bailes, pois são neles em que ela se materializa por ser uma dança social.
Desse modo, buscasse problematizar essa relação do acontecimento do baile e das condutas sociais que nele circulam como uma forma de reiterar dispositivos sociais. Trazendo não apenas a reflexão de como esses espaços tem sido organizados hegemonicamente, mas abordando os bailes insurgentes que estão sendo realizados como forma de criação de outros modos de existência nessa prática.
A seguinte pesquisa em dança encontra aporte teórico nos estudos feministas e queer. Tenho compreendido esses dois termos como campos de pensamento-ação engajados em promover fissuras nas estruturas vigentes. Ações que convocam processos de desidentificação com as normas regulatórias, mediante a qual a diferença sexual e de gênero é materializada, como nos elucida Judith Butler (2019), corpos que estão por emergir. Sendo assim, foram realizadas anotações de experiências de dança vivenciada pela autora dessa pesquisa, tanto em bailes tradicionais quanto nessas propostas de bailes insurgentes.
Trazendo à tona como os estatutos e regras presentes nos espaços conservadores auxiliam a reiteração e afirmação de um projeto político cisheternormativo-patriarcal-colonial. O qual é encarnado pelo público que habita esses salões de baile. Os frequentadores costumam afirmar que seguir esses padrões faz parte da manutenção de uma tradição, como aponta o antropólogo Felipe Veiga (2012). Nesse sentido, os próprios dançarinos passam a fiscalizar possíveis desvios de conduta nesse espaço coletivo de dança. Então aprender a dançar socialmente perpassa na aquisição dessas condutas sociais na dança de salão, e isso passa a ser elaborado de maneira coletiva nesses espaços de encontro.
Interessados em subverter esses ambientes as proposições de bailes queer e de dança de salão contemporânea podem ser pensadas como ações artísticas-ativistas, pois reinventam modos de estar vivo. São acontecimentos sendo disparados onde vemos pessoas do mesmo gênero dançando juntas, mulheres conduzindo homens, pessoas partilhando a ação de conduzir. Sendo importante destacar que são espaços organizados por agentes interessados em reinventar os modos de produção desse dançar, através de princípios que desestabilizam a cisheteronormatividade. Trazendo a dança de salão como estratégia de transformação social por vias da experiência estética.
Sendo assim, é na pista de dança que passa a ser possível construir coreografias de resistência a esses padrões e discursos dominantes em relação a gênero, classe e raça. Isso fica pulsando nos corpos dos presentes que se reinventam ao dançarem nesses bailes insurgentes. O autor Ramón H. Rivera (2011) propõe que os clubes de dança são espaços de utopia performativa para a comunidade queer latina nos Estados Unidos. Segundo ele “Os clubes de dança são lugares provisórios [...]“paraíso seguro” e ensaiando estratégias de sobrevivência coletiva.” (RIVERA, 2011, p. 11, grifo meu).
A proposta de criação então desses espaços de dança de salão com outras premissas viabiliza que pessoas que não se enquadram no modelo cisheteronormativo se sintam pertencentes a esse dançar. Assim como, amplia as referências dos corpos, que não sem um alto custo, se enquadram nesse modelo vigente.
Isso se materializa em sorrisos, em corpos se expressando através das suas danças, experimentando diálogos com outros corpos, olhos que se fecham para desfrutar da cinestesia que é estar em relação com outro corpo. No baile, não importa o que você faz, onde você trabalha: as pessoas simplesmente se relacionam através da dança e se conectam por essa via. Há uma experiência coletiva de encontro. Isso o torna uma proposta artística-ativista, pois, a partir da não separação entre as esferas vida e arte, pelas quais estamos todos sendo atravessados, apresenta, por vias sensíveis, a capacidade de, intencionalmente, reconfigurar os modos de articulação política e social.
O baile queer ou contemporâneo é fruto da “utilização máxima dos recursos políticos da produção performativa das identidades desviantes” (PRECIADO, 2019, p. 425). Um lugar de dança com premissas éticas de subversão das amarras do patriarcado. Um baile na qual seja possível circular sem medo. Aqui, já não há mais que se apoiar na liberação da dominação masculina, nas categorias naturais de homem/mulher, e nem nas diferenças sexuais, heterossexual/homossexual. Circulam pelos ares as noções de respeito, de equidade, de colaboração e de alteridade. Os corpos se escutam e criam danças a partir das diferenças e, principalmente, desse agrupamento de gentes. A criação de um espaço para se estar em relação com os outros através da dança.

Instituições
  • 1 Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Eixo Temático
  • Corpo e Política: implicações em modos de aglutinação e criação em dança
Palavras-chave
Dança de Salão
Bailes
Bailes Queer
Condutas
Bailes Contemporâneos