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Resumo

INTRODUÇÃO: Com um o tratamento clínico focado, principalmente, em intervenções com agentes farmacológicos, que a longo prazo, apresentam efeitos colaterais e diminuição da eficácia, o Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) tem preocupado clínicos e pesquisadores, especialmente, pela inércia clínica envolvida no tratamento. Tais dificuldades tem aumentado a exigência por medidas terapêuticas alternativas. O gengibre (Zingiber officinale) tem sido usado no tratamento de diversas enfermidades, dentre elas a artrite e doença hepática gordurosa não alcoólica, e mais recentemente, alguns estudos consideraram o uso desse produto para a redução dos níveis glicêmicos e lipídicos em pessoas com diabetes. No entanto, ainda não é unânime a utilização do gengibre para o controle do DM2, gerando uma lacuna no conhecimento e a necessidade de mais investigações sobre o assunto. OBJETIVO:Avaliar a efetividade do gengibre na redução dos níveis glicêmicos e lipídicos de pacientes com Diabetes Mellitus tipo 2. METODOLOGIA: Estudo piloto, do tipo ensaio clínico randomizado, pragmático, duplo cego, com uso de placebo. O estudo foi realizado entre novembro e dezembro de 2017, em uma Unidade Básica de Saúde, na cidade de Picos-PI, com pessoas diagnosticadas com DM2. Foram recrutados, por conveniência, 41 pessoas, mas apenas 21 permaneceram até o final do estudo. Aqueles que fizeram parte do Grupo Experimental (GE) receberam 60 cápsulas de 600 mg/cada contendo pó de gengibre, liofilizado. Já os pacientes do Grupo Controle (GC) receberam placebo, nas mesmas quantidades. As cápsulas contendo gengibre ou placebo deveriam ser tomadas 30 minutos antes de uma das três principais refeições no dia, por 30 dias. Todos os pacientes continuaram a tomar os antidiabéticos orais de rotina. Dados socioeconômicos, antropométricos, clínicos e laboratoriais foram coletados. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Piauí (n. 2.248.450), e registrado na REBEC (U111-1202-1650). RESULTADOS: Dos 21 participantes, a maioria era do sexo feminino (71,4%), de cor parda (66,7%) e média de idade de 57,9 anos (DP±9,22), e média de estudo de 6,95 anos (DP±5,1). Dos participantes, 42,9% tinham menos de cinco anos com diagnóstico de DM2 e 38,1% tinha entre cinco e dez anos de diagnóstico da doença. A hiperglicemia esteve presente em 66,7% dos participantes nos 30 dias antes da intervenção. Os valores peso dos participantes (75,1-74,4/p=0,02), índice de massa corporal (29,5-29,3/p=0,03), circunferência da cintura (100,8-99,7/p=0,05), circunferência do pescoço (36,7-36,1/p=0,29), circunferência do quadril (105,0-104,5/p=0,06), índice de adiposidade corporal (33,41-32,92/p=0,06), relação cintura-coxa (2,11-2,08/p=0,20), do HDL-colesterol (37,8-45,1/p=0,08) e LDL-colesterol (114,0-108,5/p=0,03), apresentaram resultados positivos após os 30 dias de intervenção com o gengibre. DISCUSSÃO: O estudo teve como principal objetivo avaliar a efetividade do gengibre para a redução de níveis glicêmicos e lipídicos de pessoas com DM2. No entanto, após 30 dias de intervenção com 1,2 gramas de gengibre em pó, encapsulado, os participantes do estudo não apresentaram significativas alterações nos perfis glicêmicos, e todos os nove participantes do GE permaneceram com a glicemia capilar e de jejum acima dos valores recomendados (p=0,33/p=0,72). Ao se analisar os resultados do perfil lipídico, percebeu-se que os valores de HDL e LDL colesterol foram positivos, indicando possibilidades terapêuticas do gengibre. Estudos que testaram o gengibre em pessoas com diabetes ainda são inconsistentes, tanto pela dose testada, como pelos resultados divergentes. Vale ressaltar que, o gengibre foi capaz de reduzir boa parte dos valores das variáveis antropométricas. CONCLUSÃO: Nesse estudo, após 30 dias com suplementação de 1,2 gramas de gengibre, as pessoas com DM2 tiveram níveis antropométricos (peso, circunferência do pescoço, índice de adiposidade corporal e de massa corporal, relação cintura-coxa, circunferência do quadril) e lipídico (LDL-colesterol), reduzidos. Além disso, também tiveram um incremento de 7,3 mg/dL nos níveis de HDL-colesterol. Com base nos efeitos positivos e efeitos colaterais insignificantes, o gengibre pode ser uma terapia adjuvante promissora para o DM2 ou doenças metabólicas em geral. Outros estudos de alta qualidade com amostras maiores e maior tempo de tratamento são necessários para examinar esses achados e avaliar o potencial efeito redutor dos níveis antropométricos, glicêmicos e lipídicos do gengibre.

Instituições
  • 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
  • 2 Universidade Federal de Pernambuco
  • 3 Universidade Federal do Rio de Janeiro
Eixo Temático
  • Perspectivas inovadoras de abordagem metodológica em saúde