DESAFIOS E PERSPECTIVAS DE ENSAIO CLÍNICO: COMPARANDO ESQUEMAS VACINAIS CONTRA HBV EM PRIVADOS DE LIBERDADE

Vol1,2018 - 97148
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Resumo

INTRODUÇÃO: Estima-se que hoje exista cerca de dois milhões e meio de indivíduos privados de liberdade, essa população é considerada de difícil acesso e vulnerável por apresentar diversos comportamentos de risco, como a hepatite B. No Brasil, a vacina contra esse agravo é gratuita e recomendada para populações vulneráveis, entretanto a cobertura vacinal desses ainda permanece baixa, possivelmente relacionado ao esquema espaçado de múltiplas doses. Visando aumentar a cobertura vacinal contra hepatite B, esquemas alternativos têm sido propostos, contudo, são escassos os estudos para avaliar a eficácia desses esquemas. Assim, refletindo acerca do contexto de difícil acesso da população privada de liberdade e nas propostas de vacinação alternativas contra hepatite B, foi-se pensado em um tipo de estudo que se facilita a avaliação desses esquemas de vacinação alternativos, sendo assim, escolhido o Ensaio Clínico Randomizado (ECR) e Controlado como estratégia para evidenciar a eficácia dos mesmos. OBJETIVO: Descrever os desafios e perspectivas da realização de Ensaio Clínico Randomizado e Controlado para avaliação da imunogenicidade e reatogenicidade da vacinação contra hepatite B em indivíduos privados de liberdade do Complexo Prisional do Brasil Central, comparando três esquemas vacinais. METODOLOGIA: Trata-se de um relato de projeto de pesquisa na modalidade Ensaio Clínico Randomizado e Controlado o qual está sendo conduzido em privados de liberdade. Após a aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa pela UFG (Parecer: 2.500.582), os indivíduos são randomizados mediante sorteio com envelopes não transparentes e selados contendo um dos três esquemas vacinais. Seguimos a razão de 1:1, sendo o Grupo 1 - intervenção: esquema super acelerado 0, 7 e 21 dias; Grupo 2 - intervenção: esquema acelerado 1, 2 e 3 meses; e o Grupo 3 - esquema tradicional - 0, 1 e 6 meses formados por 100 indivíduos privados de liberdade que atenderem aos critérios do estudo. Inicialmente é aplicado instrumento contendo características sociodemografias, comportamentais e clínicas, e coletado 10 mL de sangue para identificar os susceptíveis. Três meses após a intervenção, serão coletados 5 mL de sangue para avaliar a cinética da resposta vacinal de ambos os esquemas, bem como as variáveis preditoras. RESULTADOS: A pesquisa têm apresentado inúmeros desafios adicionais às dificuldades inerentes a estudos de intervenção, a saber: o Complexo Prisional fica localizado a 25 km do Centro da cidade, dificultando o acesso dos pesquisadores; o processo de entrada na Instituição passa por diferentes etapas operacionais de segurança as quais aumentam a espera do pesquisador; o tempo de descolamento do reeducando até a sala de pesquisa é moroso; os diferentes atendimentos jurídicos, como advogados, assistência social, direitos humanos, visitas íntimas, recebimento de alimentos e roupas; entre outros, muitas vezes chocam com o calendário das intervenções. Verificou-se que o cuidado com a saúde carcerária é precário e grande parcela dos servidores do complexo não demonstram preocupação quanto à assistência à saúde dos privados de liberdade. Não obstante, utilizou-se como estratégia a sensibilização dos colaboradores do Complexo por meio de extensão universitária. DISCUSSÃO: Ensaios Clínicos Randomizados e Controlados necessitam de planejamento, tempo e cautela para minimizar as variáveis causadoras de desequilíbrio nas etapas dessa metodologia. Os ECR precisam de muita atenção por parte dos pesquisadores, pois esse tipo de estudo visa diminuir os vieses, visto que, os grupos de intervenção e controle são alocados de forma aleatória tendo como única diferença entre si a intervenção. Uma estratégia para um melhor desenvolvimento dos ECR em populações de difícil acesso como os privados de liberdade é a conscientização da importância dessa metodologia, a fim de sensibilizar os colaboradores para que mais estudos como esse possam ser desenvolvidos como proposta de práticas baseadas em evidências. O sucesso desse tipo de pesquisa pode levar a iniciativas semelhantes para outros tipos de estudo, assim melhorando a direção de pesquisas futuras elevando o padrão de requisitos para um bom desfecho de esquemas alternativos para vacinação contra hepatite B. CONCLUSÃO: O Ensaio Clínico Randomizado e Controlado representa um importante tipo de estudo em pesquisa em saúde devido ao seu elevado grau de evidência na avaliação da eficácia de diferentes intervenções, em particular em pesquisas da ciência enfermagem. Viu-se também que as dificuldades em se trabalhar com indivíduos privados de liberdade podem ser minimizadas com a sensibilização dos pesquisadores, gestores da segurança pública e saúde, bem como dos próprios reeducandos da importância desse tipo de estudo na prevenção da hepatite B. Sabe-se que os desafios a serem vencidos ainda são inúmeros, mas para alcançar a meta da Organização Mundial de Saúde de erradicar a hepatite B até 2020 sem dúvida, essa metodologia de pesquisa é muito promissora.

Instituições
  • 1 Universidade Federal de Goiás
Eixo Temático
  • Referenciais teóricos-metodológicos para a pesquisa em enfermagem e saúde