Abordagem clínica para sífilis em privados de liberdade: aprimorando estudo de corte transversal em homens privados de liberdade

Vol1,2018 - 97165
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Resumo

INTRODUÇÃO: A Política Nacional de Atenção Integral a Saúde do Homem (PNAISH) aborda a necessidade de fortalecer a atenção primária para o cuidado a população masculina. O mesmo enfoque deve ser dado à saúde dos homens privados de liberdade, incluindo não apenas o tratamento de doenças, mas a prevenção e promoção da saúde. O Estado ao retirar o direito da pessoa à liberdade assume a responsabilidade de cuidar de sua saúde de forma integral e holística. Durante o confinamento a sexualidade humana e necessidade sexual não mudam, e os homens continuam mantendo relações sexuais, na grande maioria das vezes com comportamentos de risco para as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) como a infecção pelo Treponema pallidum, que vem se mostrando um desafio para a saúde pública. Casos reagentes para sífilis precisam ser cuidados precocemente a partir de abordagem clínica, sendo o exame da região genital e anal uma ferramenta indispensável, porem pouquíssimo utilizado em populações vulneráveis. OBJETIVO: Descrever a experiência e desafios da condução de um estudo de corte transversal, utilizando o exame clínico para fortalecer o desfecho da pesquisa (positividade de sífilis ativa), bem como promover a saúde sexual de homens privados de liberdade. METODOLOGIA: O atual relato aborda a experiência da realização de um estudo de mestrado ainda não finalizado, que investiga o perfil soroepidemiológico e clínico da infecção pelo Treponema pallidum em homens privados de liberdade, realizado a partir de pesquisa de campo em um sistema penitenciário do Estado de Goiás. No referido estudo inicialmente é feito teste imunocromatográfico para sífilis do tipo Teste Rápido. Para o levantamento dos casos de infecção ativa, os pesquisadores responsáveis estão realizando no momento de aconselhamento pós-teste, o exame clínico (inspeção e palpação) dos indivíduos privados de liberdade que possuem sorologia reagente para sífilis, conforme recomendado pelo Ministério da Saúde. Aproveita-se a ocasião para promover a saúde sexual, desmistificar a temática e aproximar o homem dos cuidados à saúde sexual e reprodutiva. Os casos reagentes e com úlceras sifilíticas são tratados pelos próprios pesquisadores. RESULTADOS: Diante do resultado positivo para sífilis, a grande maioria dos homens privados de liberdade demonstrou de forma verbal e não-verbal, certo medo e receio por não saberem detalhes acerca da infecção e por ser uma experiência de cuidado não conhecida e praticada no presídio. Após o tempo necessário para assimilar o impacto do resultado e expressar seus sentimentos, pede-se permissão para realizar o exame clínico em busca de evidências da infecção nas fases ativas. A maioria dos homens demonstra vergonha em um primeiro momento, mas permitindo logo em seguida a realização da inspeção. Percebeu-se ereção peniana em alguns casos no momento da palpação da região inguinal, seguido de um desconforto por parte do homem privado de liberdade. O déficit de autocuidado com a região genital também foi percebi de forma recorrente. Utiliza-se então o momento para orientar sobre a higienização correta da região genital, tricotomia, sintomatologia das IST’s e a importância de procurar ajuda médica quando ocorré-las. Todos os pesquisadores foram devidamente capacitados para a prática clínica e suas inúmeras possibilidades. DISCUSSÃO: É nítida a importância de investigações que realizem o diagnóstico e tratamento precoce desses indivíduos que não são assistidos em suas necessidades de saúde. Ainda, é necessário elucida-los acerca da necessidade de buscarem os ambientes de saúde, visto que muitos apresentam alta vulnerabilidade para IST. São imensuráveis os reflexos da falta de orientações na área da saúde sexual, e inquestionavelmente as representações sociais sobre a masculinidade comprometem o acesso à atenção primária, bem como repercutem na vulnerabilidade e risco para a saúde dessa população. Embora esteja em regime de privação, a sexualidade desses sujeitos está preservada, fazendo-se necessários estudos que avaliem esse fenômeno afim de minimizar as inúmeras adversidades decorrentes de uma sexualidade prejudicada. Percebe-se também negligência por parte da gestão com a saúde geral do indivíduo privado de liberdade, gerando altos custos direta e indiretamente para a saúde pública. CONCLUSÃO: Embora preliminares, os achados da presente investigação apontam para um complexa problemática dessa infecção. Desenvolver o estudo não está sendo tarefa simples, tendo em vista a alta complexidade que envolve o cuidado dos indivíduos privados de liberdade que estão inseridos em contextos de vulnerabilidade, onde é imprescindível realizar abordagens que considerem os aspectos sociais, econômicos, ambientais, culturais, entre outros, como condicionantes e/ou determinantes da situação de saúde, exigindo uma nova postura e qualificação profissional. É necessário compreender as questões de gênero que colaboram para que os homens se afastem do campo da saúde primária tanto quando está fora do presídio, quanto em reclusão; tornando urgente que mais debates e ações sejam realizados por estudiosos da área.

Instituições
  • 1 Universidade Federal de Goiás
Eixo Temático
  • Perspectivas inovadoras de abordagem metodológica em saúde