MULTIMORBIDADE NA LINHA DE BASE DO ESTUDO LONGITUDINAL DE SAÚDE DO ADULTO (ELSA-BRASIL): DESIGUALDADES NA INTERSECÇÃO DE RAÇA/COR DA PELE E GÊNERO

Vol 2, 2022 - 162236
Relato de Pesquisa
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Resumo

A multimorbidade, comumente definida como coexistência de duas ou mais doenças crônicas, aumenta o risco de hospitalização e morte prematura e é dispendiosa para os sistemas de saúde. Maior prevalência em mulheres e início em idade mais jovem em negros foram relatados, entretanto, pesquisas que consideram a intersecção de raça/cor da pele e gênero na multimorbidade são incipientes.

Objetivos

Examinar a associação entre a intersecção de raça/cor da pele e gênero e a prevalência de multimorbidade, em diferentes definições, entre participantes da linha de base (2008-2010) do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil).

Metodologia

Foram avaliados dados basais de 14.099 participantes do ELSA-Brasil autodeclarados brancos, pardos ou pretos. Câncer, diabetes, obesidade, dislipidemia, transtornos mentais, enxaqueca, febre reumática, hipertensão arterial, doenças isquêmicas do coração, insuficiência cardíaca, AVC, enfisema/ bronquite crônica/ DPOC, asma, cirrose do fígado/ hepatite, problemas nas articulações e doença renal foram consideradas para definir a situação de multimorbidade, que foi operacionalizada em diferentes pontos de corte (entre ≥2 a ≥6 morbidades). Razões de prevalência (RP) foram estimadas a partir de modelos logísticos e a intersecção de raça/cor da pele e gênero foi o marcador de risco de interesse.

Resultados

Hipertensão arterial e diabetes foram mais prevalentes em homens pretos e mulheres pretas, transtornos mentais mais frequentes entre mulheres pardas e pretas e câncer entre mulheres brancas. A prevalência geral de multimorbidade (≥2 morbidades) foi de 70%, mas variou de 66% (homens brancos) a 80% (mulheres pretas). Controlando a idade, a prevalência foi 7%, 16% e 20% maior para mulheres brancas, pardas e pretas, respectivamente, em relação aos homens brancos, mas no ponto de corte mais elevado para a multimorbidade (≥6 morbidades), essas prevalências foram maiores em 70% (RP: 1,70; IC 95%: 1,38-2,10), 138% (RP: 2,38; IC 95%: 1,90-2,98) e 201% (RP: 3,01; IC 95%: 2,40-3,78), respectivamente.

Conclusões/Considerações

A multimorbidade na definição clássica (≥2 morbidades) foi comum no ELSA, mas sua definição em pontos de corte mais elevados revelou que mulheres, especialmente pardas e pretas, convivem com situações de saúde mais complexas, com maior adoecimento. Essas desigualdades em saúde na intersecção de raça/cor da pele e gênero indicam a necessidade de abordar fatores contextuais que atuam conjuntamente na produção e acúmulo de doenças crônicas.

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