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Introdução: A violência contra mulheres constitui-se importante problema de saúde pública e de direitos humanos no Brasil e no mundo. O seu enfrentamento impõe um conjunto de ações articuladas e consolidadas entre os profissionais que compõem as diversas instituições responsáveis pela atenção. A criação de um Programa e de uma Rede Intersetorial de atenção às Mulheres em Situação de Violência doméstica e sexual no município de Curitiba, com atuação há mais de 16 anos, pode ser compreendida como um importante avanço para o enfrentamento deste fenômeno. Objetivos: Analisar a percepção dos profissionais que compõem uma rede intersetorial quanto as articulações entre as instituições, na atenção às mulheres em situação de violência Metodologia: Pesquisa avaliativa em que foram percorridas três etapas, epidemiológica, documental e informantes chave, etapa da qual se trata esse trabalho, onde foram entrevistados 49 profissionais entre maio de 2016 a junho de 2017 com posterior transcrição e análise por meio de Classificação Hierárquica Descendente, com apoio do Software IRAMUTEQ®. Resultados e discussão: Após o processamento obtiveram-se 2.323 segmentos de texto ou unidade de contexto elementar, com 92,9 % de aproveitamento dos segmentos. Todas as palavras selecionadas tinham um p<0,001 o que indica associação significativa da confecção do corpus, proporcionando a definição de 06 classes, definidas respectivamente: Classe 1 – Interface da intersetoralidade e da atenção no trabalho da Rede e do Programa e correspondem às características da relação, da articulação entre as diversas entidades que compõem a Rede, ou a partir de um aspecto mais amplo, de como ocorre a comunicação intersetorial e suas dificuldades. As falas demonstram que na intersetorialidade o fluxo é uma questão desafiadora a ser ainda melhor delimitado, frente a cada entidade e seu objetivo no atendimento ligado à rede. Classe 2 – O compartilhamento de valores e objetivos do Programa e da Rede. Nesta classe destacou-se o entendimento dos profissionais na fragilidade da comunicação entre as instituições. Relatam que a missão geral da rede deve estar vinculada ao atendimento diário de cada instituição, mesmo que cada uma tenha a sua finalidade. Classe 3 – Aspectos legais e técnicos da atenção na área da segurança pública e nos fluxos da violência sexual. Os relatos evidenciam as lacunas que persistem no atendimento às mulheres quando direcionadas para atendimento entre os diversos órgãos da rede. A falta de realizar o acolhimento de forma efetiva foi destaque por parte de instituições da segurança pública, principalmente a culpabilização das mulheres pela situação de violência sofrida. Para um acolhimento em seu sentido mais amplo é necessário à promoção de estratégias, que levem os profissionais a uma reflexão e discussão de suas práticas, a partir da sua realidade e do contexto em que estão inseridos. Classe 4 – A complexidade e multiplicidade de ações envolvidas no enfrentamento à violência contra as mulheres e seus desafios. As narrativas acima revelam que a violência contra as mulheres não pode ser resolvida com uma intervenção clínica clássica, com medicação, ou simplesmente a prisão do agressor. Exige ações de diferentes setores e uma mudança individual e institucional na concepção da problemática, com a inclusão de uma visão de gênero e formação, sobre os aspectos plurais que interferem na origem e ciclo das violências. Classe 5 – As dificuldades de gestão do programa e da Rede impactados pelas mudanças da estrutura governamental. Esses relatados geram a evidência de que é necessário o envolvimento da Rede que deve estar voltado não somente ao compromisso pessoal, mas o institucional, tendo em vista a falta de investimento na reposição de profissionais. Conforme relatado a mudança de gestão gera impacto quanto ao olhar do novo gestor para a rede e na articulação de pessoas. Classe 6 – Interfaces entre as redes da mulher, da criança e adolescente e da pessoa idosa nos níveis de execução. A organização e os fluxos são estruturantes para o enfrentamento da violência contra mulheres, já que implica diretamente na rota crítica, que se caracteriza pelos caminhos a serem percorridos por essas mulheres. Rotas que são entendidas como a articulação e atenção disponibilizada entre os serviços, e suas diversas portas de entrada para a atenção (unidades básicas de saúde, serviços de emergência na saúde, delegacias e serviços da assistência social, centro de referência dentre outras), para promover uma assistência qualificada, evitando a revitimização à mulher em situação de violência. Considerações finais:A experiência intersetorial e interinstitucional é exitosa, referência de política pública nacional e local. O estudo contribuiu para refletir acerca das múltiplas possibilidades de articulação utilizadas para o enfrentamento da violência contra mulheres a partir da percepção dos profissionais que a compõem.
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