PESQUISA E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: ESTRATÉGIA DE DIMINUIÇÃO DA INIQUIDADE SOCIAL EM ÁREA DE OCUPAÇÃO RECENTE

Vol 1, 2019 - 122925
Exposição Oral
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Resumo

Contextualização: a área de ocupação com três anos de existência, onde moram cerca de 150 famílias (brasileiros e haitianos) com predomínio de crianças e adultos jovens, elevada taxa de desemprego, evasão escolar, uso de drogas e situações de violência. Habitações de madeira, sem esgotamento sanitário. O surgimento de ocupações intensificou-se nos últimos anos, ultrapassando com folga a taxa de crescimento anual do parque domiciliar brasileiro. Ocupações relativamente recentes apresentam características singulares que as diferenciam, em muitos aspectos, de favelas ditas antigas. Sua organização social costuma ser mais frágil e sua própria existência permanentemente ameaçada. O acesso dos moradores à unidade básica de saúde de referência é dificultado pela inexistência de comprovantes de endereço, exigidos para se fazer o cadastro dos usuários. O território tampouco recebia a visita de profissionais de saúde, reforçando a sensação de invisibilidade social. O acesso à atenção à saúde tende a ser mais difícil para essa parcela mais vulnerável da população do que para os demais moradores da área de abrangência da unidade de saúde. Nesse contexto, havia clara situação de iniquidade. Descrição: a experiência consistiu em aproximações sucessivas da comunidade a partir de parceria entre a equipe da unidade básica de saúde e alunos e docentes da universidade, valendo-se de atividades de extensão e pesquisa. Alunos de diferentes cursos - Ciências Sociais, Enfermagem, Farmácia, Medicina, Midialogia e Pedagogia - e pós-graduandos (residentes e mestranda) ofereceram atividades lúdico-pedagógicas às crianças, visitas e consultas no território da ocupação, e trocas de saberes e experiências com profissionais da unidade básica de saúde. Período de realização: início em fevereiro 2018 - em andamento. Objetivo: contribuir com diminuição da iniquidade na atenção à saúde dos moradores de ocupação urbana. Resultados: 1) conhecimentos produzidos: a) a ocupação de terreno previamente destinado a área de lazer de conjunto habitacional vizinho e a chegada repentina de uma população quase 500 pessoas na área de abrangência da unidade de saúde da família desencadeou reação de afastamento e negação por parte dos demais moradores e da equipe de saúde. Isso explica, em parte, o fato do território da ocupação não receber visitas e outras ações de saúde e a não representatividade no conselho local; b) itinerário terapêutico: moradores de ocupações recentes tendem a conservar seus prontuários em unidades de saúde dos bairros onde residiam anteriormente em razão da incerteza quanto ao futuro, risco de serem despejados, provisoriedade da sua condição e incipiente enraizamento. A inclusão de pessoas da ocupação na unidade de saúde é mais lenta se comparada com habitantes de outros bairros; c) morar em ocupações é solução para famílias que não podem pagar aluguel ou fornecer nome e documentos em razão de problema com a justiça; d) moradores da ocupação têm a percepção de serem vítimas de preconceito por parte de vizinhos de fora da ocupação e profissionais de saúde; g) violência é fenômeno muito presente no cotidiano de moradores de ocupação, em particular crianças e mulheres. 2) mudanças desencadeadas: a) agentes de saúde e profissionais de enfermagem passaram a realizar visitas e ações de saúde no território da ocupação; b) participação de coordenadora da ocupação no conselho local da unidade de saúde; c) participação de docente e extensionistas da universidade na reunião de equipe e do núcleo de apoio à saúde da família; d) diagnóstico de saúde da comunidade da ocupação. Aprendizados: extensão universitária, associada à pesquisa, como estratégia de qualificar a aproximação entre equipe de saúde e comunidade. O processo de incorporação de novos territórios à equipes de saúde da família deve incluir o conhecimento da história da ocupação e de suas relações com os demais grupos populacionais vizinhos e considerar o olhar da equipe de saúde sobre essa questão. Atividades lúdico-pedagógicas com crianças, de forma regular e longitudinal, são capazes de captar questões relevantes da vida na comunidade, em particular de crianças e sua relação com adultos. Análise crítica: a experiência aqui relatada permitiu a produção de conhecimentos e mudanças concretas no cotidiano do território e da unidade de saúde. No entanto, ficou claro a necessidade de continuidade das ações do projeto de extensão e de aprofundamento das reflexões e pesquisas iniciadas. O projeto de extensão também produziu ensino-aprendizagem, em especial no campo da Saúde Coletiva. A curricularização da extensão universitária pode ser um caminho profícuo para a continuidade e valorização de experiências como esta.

Eixo Temático
  • GT 35 - Vulnerabilidades e saúde: enfoques, contextos e sujeitos